Cheguei sozinha ao salão de festas no Itaim. Entrei no Villa Vérico procurando por rostos conhecidos, mas, cheguei a acreditar que estava no casamento errado. Não conhecia ninguém.
O local estava lotado. Cadeiras brancas enfileiradas se abriam num corredor quase todas ocupadas. Muitas pessoas em pé. Atrás das cadeiras, uma escadaria levava ao mezanino aberto. Lá estavam concentrados os padrinhos e noivos.
Enorme guirlanda de margaridas pequenas pendia do teto, com pé direito bem alto, em cima de uma maravilhosa e comprida mesa decorada com dois longos castiçais rodeada por seis velas com proteção de vidro. Dois vasos brancos robustos com flores brancas e outros dois com copos de leite brancos e amarelos. Essa mesa era mesmo um show á parte que se harmonizava por uma parede de vidro que separava o salão da sala dos fumantes. Mas não estou falando de uma sala dos fumantes qualquer. Aquela é a sala de fumante mais gloriosa que já ousei acender um cigarro. Muito bem projetada. Uma cascata acompanhava toda a parede num recorte cubista com madeiras que davam ao movimento das águas, um toque surreal. Uma mesinha de ferro ao canto com duas cadeirinhas convidavam para um papo. E foi o que fizeram os pais dos noivos para consolidar a união dos filhos e famílias.
Do lado esquerdo, um “Quinteto”. Três violinos, um violoncelo e um teclado fizeram as emoções aflorarem a pele.
Uma voz feminina, doce e firme anuncia a cerimônia. Descem a escadaria e rompem o corredor dois casais para cada noivo sendo que um casal de cada noivo são os respectivos irmãos com suas esposas. Entremeiam a cada casal que desfila seis moças lindas, vestidas de branco, carregado copos de leite. São três amigas de cada noivo, que ali representam a pureza daquela cerimônia.
Uma daminha de honra, graciosa, com cora de princesa, encanta a todos.
Os pais de Darwin, de mãos dadas com o noivo, entram emocionados para levar até aquele altar simbólico, o filho amado. Beijos, abraços, afagos e lágrimas selam a emoção.
Em seguida, os pais do segundo noivo, Carlos Augusto, meu primo amado, descem os degraus e levam até o Darwin, o filho especial que acarinham em lagrimas. Abraços longos e abençoados.
Tia “Loló”, Paulina Bonetti, irmã do meu Avô Alexandre, entra com seu vestido rosa antigo, aos 87 anos, delicada, mas de sorriso largo e feliz, apoiada pela filha Maga. Tia Loló carrega o signo, elo perfeito que sedimentará a união. As alianças.
Sob fundo musical, uma moça esguia, com porte de bailarina russa, vestido azul cobalto, de posse do microfone, voz mansa, traduz em palavras o ritual das velas, onde o relacionamento no futuro, nos instantes em que o amor adormecer, terá a chama da vela para colorir a opacidade do olhar. Nesse instante mágico, os pais com velas acesas, acendem a vela dos filhos para selar o brilho da união. A troca das alianças envolve os presentes numa magia. Difícil fugir as lágrimas.
Carlos Augusto ao som dos violinos “Como é grande o meu amor por você”, faz uma linda declaração da importância da união. Darwin chora emocionado. Carlos coloca a aliança no amado.
Nesse momento, todos caem na gargalhada. Coisas do mundo moderno de tecnologias, pois Darwin saca do bolso o celular para ler seu discurso de amor.
“Uma colinha é sempre mais fácil, ele é bom no improviso, eu sou bom no planejamento, diz ele. Enquanto eu já escolhi o que vou vestir no natal, Carlos nem sabe o que usará amanhã. Somos opostos e iguais. Fogo que queima e arde, mas que também aquece e transforma. O fato é que essas diferenças nos complementam e nos unem, diz Darwin. Amo a sua alegria, a sua energia e seu entusiasmo. E como diz Drummond, se amar se aprende amando, quero te amar a cada dia. Vem ser meu marido”.
A moça do vestido azul cobalto, fecha a cerimônia relatando o dia e qual o cartório que registrou o casamento civil.
Emocionados, Carlos Augusto aguarda enquanto Darwin recebe os cumprimentos da Márcia e Márcio, seus sogros, cunhados, padrinhos e madrinhas. Beijos, abraços e muitas lágrimas de felicidade.
Após os cumprimentos, erguem se as cortinas laterais e um salão quadrado, enorme, com o mesmo pé direito de metros e metros, abrilhanta um palco com “Dj”. As paredes do salão, onde foi servido coquetel e jantar, tem uma iluminação aconchegante, que de vermelho, se transforma em azul e violeta.
Salmão ou Filet Mignon acompanhavam pratos deliciosos. Um deles era com figo seco e outro agridoce. Ainda sinto salivar quando lembro. As mesas redondas onde nove pessoas podiam se reunir, eram espaçosas e adequadas ao tamanho do salão.
Já frequentei muitos casamentos glamorosos, mas confesso que este estava particularmente perfeito. Tudo pensado e escolhido com atenção e sensibilidade.
Um aparador servia de suporte para álbum com fotos dos noivos, onde havia espaço para escolher uma caneta colorida e deixar seu depoimento ou declaração. Na parede acima do aparador, uma foto enorme dos meninos apaixonados.
Logo a frente um vaso enorme abrigava uma arvore com galhos secos, onde poderíamos escrever recados para os noivos e pendurar nos galhos.
A mesa que abrigou a cerimônia se transformou numa linda mesa de doces. Elegi um com raspas de coco enroladinhos.
Na passagem para o fumódromo, um balcão onde serviam delicioso café.
Todos dançaram. O som do Dj foi muito animado.
De repente o som cessa e Carlos Augusto pede a presença das moças que querem se casar. Desta vez, somente desta vez não será jogado um buquê, mas dois amuletos para dar sorte aos dois futuros casamentos. Carlinhos de costas, um, dois e... joga um sapo de pano, e avisa que ao beijá-lo pode ser que se acreditar vire um príncipe e Darwin joga de pano também, um Santo Antônio. E a sorte esta lançada. Foi divertido.
A vida é uma festa. Basta dizer que o casamento começou as 20h30 e fui embora as 4h00 da madrugada. Não sem antes passar por aquela imensa mesa redonda na saída, repleta de bem casados, papeis verdes com listras douradas representavam a esperança.
Tudo perfeito, harmonioso e de extremo bom gosto. Que sejam felizes para sempre.