25 novembro 2024

Acredito que quando um escritor serve-se da ficção para construir um livro, por exemplo, romance, terror, policial ou infantil sua viagem solitária não tem dependências com o concretismo e a preocupação de deturpação dos escritos.
Sua imaginação pode levá-lo por caminhos abstratos que, transmitam as cores quentes de uma estrada longa, ladeada de Ipês amarelos, contaminando as pupilas pela beleza e que, num dia quente de verão, a sombra de tantas árvores faz cobertura ao espírito e refresca a alma, ou, num atalho do pensamento transformar uma noite fria de neblina em preto e branco onde o coração exalta o aflito leitor que sem sadismo, corre as páginas no silêncio da madrugada, mas no inconsciente, tem a certeza de estar ouvindo no mais alto som a 5ª Sínfonia.
Oscila o corpo e vibra o fôlego para que a linda protagonista consiga em seus passos largos, protegida pelo negro casaco com capuz que esconde seu rosto, deixando a mostra os olhos de terror pela adrenalina do medo, chegar viva ao seu destino.
Sendo um filósofo, a primeira imagem me remete a Rodin e a plasticidade exuberante daquele bronze: “O pensador”. O retrato exato do homem e seus questionamentos, da busca de respostas existenciais, da verdade flexível que deveria ser absoluta, do conhecimento inesgotável, a procura dos argumentos que levem a tornar seu discurso convincente sobre a ética e a moral. O amadurecimento que faça com que contribua para entender e tornar o humano menos irracional.
Reconheço que uma enorme porcentagem de comuns mortais foram ou serão um dia “pseudo” filósofos de seus próprios amadurecimentos. A diferença está na busca e na escrita perpétua que nos deixam os estudiosos, possibilitando ao outro o acesso a pensamentos que só acrescentam positivamente para nos tornar indivíduos melhores.
Agora, quando penso na “poesia” dos grandes abençoados pelo dom maior de transformar em versos, as belezas vividas pelo amor, pelo cotidiano, percalços, mágoas, sofrimentos e perdas, submetem-me a dizer que os verdadeiros “Poetas são anjos disfarçados de humanos”.
A poesia escrita por aquele que nasce poeta é a música dos olhos. Somos tocados pela mesma emoção.
O maior desafio da humanidade é montar o “quebra cabeça” da memória de um povo, a busca das informações que de forma imparcial e sem deturpações não transformem em lenda verdades que passam por metamorfoses, em pesquisas mal efetuadas e repetidas por informações incorretas e que vão se perpetuando de forma irreal na literatura.
Hitler disse: “Uma mentira dita cem vezes, torna-se verdade um dia”. Imagina quando publicada. E os erros crassos da história vão se repetindo na literatura, até que um dia torna-se verdade absoluta.
Por isso penso que: Os que fazem parte da história hoje deveriam pensar em deixar seus registros dos acontecimentos que estão vivendo “in loco” para que, os pesquisadores do futuro consigam resgatar a memória de uma pessoa, rua, bairro, cidade, país, o mais próximo da realidade.
Tenho particularmente vivenciado há seis anos o meu “quebra-cabeça” de pesquisa da memória paulistana, mas, que ainda necessita do encaixe perfeito de algumas peças espalhadas pelos caminhos já percorridos. Sinto-me guiada de alguma forma por uma estranha intuição e cercada de pessoas capacitadas que aponto como “almas generosas” e com certeza somam.
Escrever sobre a capital paulistana e nela inserida um dos intelectuais mais respeitados por suas contribuições históricas não foi tão complicado, pois consegui me debruçar por cinco anos nos guardados da sua filha Nazareth Thiollier, que aos 90 anos me guia de outro plano.
René Thiollier, onde estiver, muito obrigada por deixar tantos registros como fio condutor dessa sua passagem pela capital paulista, onde sempre penso em você como nosso “Forrest Gump brasileiro”, mas que depois do lançamento do livro, será perpetuado o esforço da sua amada filha e reuniremos numa só lembrança e como disse o poeta Paulo Bomfim “Num só coração” todo empenho e amor que, René Thiollier, dedicou a São Paulo.